Mesmo não tendo computador robusto ou banda larga, é possível ajudar.
Mesmo acreditando que seu PC não chega nem perto de ser tão rápido quanto deveria, saiba que ele pode, sim, ser considerado um supercomputador -- ou pelo menos parte disso. Essa é a proposta dos sistemas de computação distribuída, também conhecidos como computação voluntária, que utilizam a capacidade de milhares de máquinas ociosas espalhadas pelo mundo para processar grandes quantidades de informação. Ao “quebrar” pacotes de dados e enviá-los para diferentes usuários, é possível processá-los simultaneamente, reduzindo os custos e também o tempo gasto com estudos.
Apesar de alguns desses projetos para causas coletivas exigirem computadores robustos de grandes centros de pesquisa, a maioria deles se contenta com o que seu computador pessoal -- seja de casa ou do trabalho --- tem a oferecer. Assim, se você já fosse voluntário, poderia sair agora da frente do computador para tomar um lanche e voltar mais tarde com a sensação de ter contribuído para resolver uma grande questão da humanidade.
A computação voluntária é freqüentemente chamada de grid computing, mas este segundo termo é mais específico para o uso de capacidade ociosa dentro de organizações, e não de computadores pessoais. Por realizarem o processamento quando as máquinas dos voluntários estão ligadas, mas não em uso, essas iniciativas teoricamente não tornam os PCs mais lentos.
Quando combinada, a capacidade de processamento de computadores pessoais pode trazer resultados impressionantes. O projeto World Community Grid, por exemplo, já registrou mais de 1 milhão de computadores que realizaram, nos últimos quatro anos, o equivalente a 188 mil anos de processamento de dados em diversas áreas.
Voluntários dessa comunidade doam, a cada semana, o equivalente a 1,4 mil anos do tempo de suas máquinas para pesquisas sobre o combate ao câncer, à Aids e à dengue, além de análises relacionadas a um arroz mais nutritivo e ao dobramento de proteínas. Esse último assunto também é foco de outro grande projeto de computação voluntária, o Folding@home, com o qual a Universidade de Standford pretende entender o dobramento de proteínas e as doenças relacionadas ao assunto.
“Essa alternativa é mais eficaz que o uso de um supercomputador. Essas grandes máquinas têm geralmente 5 mil processadores, sendo que cada um deles é surpreendentemente mais lento do que os chips de computadores domésticos atuais. Além disso, a capacidade de supermáquinas é compartilhada entre diferentes projetos. Mesmo um supercomputador seria cerca de cem vezes mais lento do que o nosso sistema”, diz o Folding@home, que usa a capacidade de 350 mil processadores de voluntários.
A iniciativa distribui o processamento entre máquinas com sistemas operacionais Windows (contribuição de 219,1 mil processadores no total), Linux (32,9 mil) e Mac (15 mil), além de usar a capacidade de consoles PlayStation 3 (62,9 mil) e das placas de vídeo Nvidia (13,5 mil) e ATI (4,5 mil). Os projetos de grid computing rodam em máquinas ociosas, desde que elas estejam ligadas.
Projeto LHC aceita contribuição de usuários domésticos e também de grandes centros de pesquisa. Foto mostra o centro de grid computing, na Suíça, que reunirá informações de 140 centros de computação, espalhados por 33 países. Objetivo é processar mais de 15 milhões de gigabytes de dados a cada ano. (Foto: AFP)
Como escolher
Uma busca na internet traz muitos projetos de computação voluntária, de diferentes áreas. Além das alternativas já citadas, é possível contribuir com o LHC (Grande Colisor de Hádrons), com a previsão do clima, com pesquisas sobre estrelas de nêutrons, com a busca por inteligência extraterrestre, com estudos sobre malária, com a previsão de estruturas de proteínas e com a determinação de formas tridimensionais de proteínas, para citar alguns exemplos.
Antes de aderir a um desses projetos, é importante verificar o que eles exigem. O SETI@home, que busca inteligência extraterrestre, diz que voluntários de computadores “normais” (processador Pentium 4 de 2 GHz, por exemplo) devem rodar o programa pelo menos duas horas por semana. “Máquinas mais lentas também podem contribuir, mas precisam proporcionalmente de mais tempo”, diz. O Climate Prediction, por sua vez, busca participantes com qualquer tipo de acesso à internet, processador de 1,6 GHz, disco rígido com pelo menos 1 GB livre e memória RAM mínima de 256 MB.
Algumas iniciativas, como é o caso do Folding@home, aceitam usuários de máquinas com tipos muito diferentes de configuração. Assim, os voluntários podem escolher com quanto da capacidade de seus computadores querem contribuir.
Segundo Cezar Taurion, gerente de novas tecnologias aplicadas da IBM, não é interessante para os projetos de computação distribuída exigirem computadores potentes ou conexão rápida à internet. “Quanto maior a quantidade de voluntários, melhor, pois o objetivo é formar uma grande comunidade de colaboradores. Muitas demandas em relação ao hardware ou à velocidade de banda restringem a participação de pessoas interessadas”.
Como a maioria dos usuários de computador pode contribuir, Taurion acredita que a afinidade com o tema do projeto seja o fator mais relevante na hora de fazer a escolha.
Mapa mostra onde estão os voluntários do Folding@home. Projeto diz que colaboradores estão em 2.605 localidades diferentes, espalhadas por 94 países. (Foto: Divulgação )
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